O tapete vermelho do London Film Festival (LFF) acabou de ser enrolado, mas, calma, a temporada de maratonas cinematográficas na capital inglesa está longe de terminar. Quem assume o holofote agora é a cultura que nos deu a baguette, a Torre Eiffel e, claro, alguns dos filmes mais complexos e esteticamente impecáveis do planeta.
Estamos falando do 33º French Film Festival London, o point perfeito para quem quer mandar um “o cinema nacional não faz mais filmes assim” (só que com sotaque francês). O festival acontece sob o teto chique do Institut Français, em South Kensington, mais especificamente no Ciné Lumière, um cinema elegante de duas telas onde a vibe é íntima e o público é realmente apaixonado.
Com 76 sessões rolando entre os dias 12 e 23 de novembro, a curadoria deste ano está de parabéns, desempacotando uma seleção de cinema francês que vai muito além das fronteiras da República. Para te salvar do burnout (e do risco de ser demitido por ir ao cinema demais), fizemos o trabalho duro e peneiramos a programação para te entregar cinco filmes absolutamente imperdíveis. Prepare o coração e a mente, porque a lista tem Palma de Ouro, drama devastador e, claro, aquele existencialismo que só a França sabe fazer.
O Top 5 Magnifique do Cinema Francês em Londres
A 33ª edição do evento mostra que o cinema francês não tem medo de colocar o dedo na ferida, misturando dramas pesados com comédia ácida e revisitas históricas. A ordem é a mesma que você precisa priorizar na sua agenda:
1. It was just an accident (Foi só um acidente)
Se você curte aquela comédia de humor negro que te faz rir e questionar o seu caráter ao mesmo tempo, anota esse título. À primeira vista, a história de sequestro e vingança que se passa em Teerã, no Irã, pode não gritar “França”, mas o plot twist é que este é um vencedor da Palma de Ouro com financiamento francês.
O filme é dirigido pelo mestre Jafar Panahi, um cineasta que o regime iraniano tenta censurar e silenciar há anos. Ou seja, cada filme dele é um ato de pura coragem moral, e este não é diferente. A trama acompanha Vahid Mobasseri, um mecânico que, por acaso, esbarra no homem que ele acredita tê-lo torturado no passado. A decisão que ele toma a seguir é o motor de uma história que é, ao mesmo tempo, incrivelmente engraçada e profundamente perturbadora. É a prova de que o cinema francês, quando bota a mão no bolso, consegue dar voz a narrativas globais de impacto.
Fique de olho: Panahi é um gênio em transformar a opressão política em arte.
2. The stranger (O estrangeiro)
Chegou a hora de exercitar o existencialismo com um toque sexy. O diretor François Ozon (Summer of 85’) pega a clássica novela de Albert Camus, O Estrangeiro (1942), e entrega uma versão em preto e branco que é pura vibe de angústia juvenil.
A história é a mesma: um jovem francês, Meursault, atira em um homem árabe a sangue frio e, quando questionado, não oferece qualquer explicação ou justificativa coerente. Benjamin Voisin assume o papel que já foi de Marcello Mastroianni, entregando um enigma impassível que é difícil de tirar os olhos. A companheira de Voisin, interpretada por Rebecca Marder, tenta desesperadamente encontrar sentido em um homem que não se encaixa em nenhuma lógica emocional. Prepare-se para 100 minutos de “bad vibes” deliciosas, onde a falta de sentido da vida é a estrela. É o tipo de cinema francês que te faz parecer inteligente no happy hour.
Lição de vida francesa: Às vezes, as coisas são o que são, e o sol (ou a falta dele) é o culpado.
3. The voice of hind rajab (A voz de hind rajab)
Se a lista tivesse um prêmio de filme mais necessário, seria este. Este docudrama palestino, dirigido por Kaouther Ben Hania, é a prova de que o festival está disposto a encarar os temas mais pesados e difíceis da atualidade. A história real de Hind Rajab, uma menina de seis anos morta em Gaza em 2024, é um soco no estômago e uma experiência de tela gigante poderosa.
Embora a França tenha co-produzido, a história é universalmente trágica. Em um mundo onde aplausos em festivais são distribuídos de forma exagerada, o que aconteceu com este filme é um marco: ele recebeu 23 minutos de aplausos estrondosos. É mais do que apenas um drama; é um testemunho brutal e comovente sobre as vítimas de conflitos, mostrando a força e a importância do cinema como ferramenta de registro histórico e denúncia. É o momento de pausar a irreverência e honrar a arte.
4. The great arch (O grande arco)
Vamos de treta política e arquitetura! The Great Arch foi o filme de abertura do festival e conta a história real de Otto von Spreckelsen, um arquiteto dinamarquês que ousou mudar o skyline de Paris. O filme acompanha a controvérsia da construção do Grande Arco de La Défense após a encomenda do então presidente François Mitterrand, no início dos anos 80.
Se você pensa que arquitetura é chato, pense de novo. O filme mergulha nas manobras políticas e nos barracos que vieram com o projeto. Claes Bang (The Square) interpreta Spreckelsen, o “disruptor estético” que enfrentou um verdadeiro circo de egos e burocracia para colocar sua visão de pé. É uma daquelas histórias de “bastidores do poder” que a gente ama, mostrando que até mesmo para erguer um monumento icônico é preciso passar por uma dose cavalar de stress e shadow politics.
Para quem ama: Um drama político denso, mas com a elegância de uma produção francesa.
5. La reine margot (A rainha margot)
Nem só de novidade vive o cinéfilo. O festival também tem um espaço magnifique para as retrospectivas, e o destaque imperdível é La Reine Margot (1994). Este épico histórico, dirigido por Patrice Chéreau, é um drama de época Grand Guignol, que não economiza em violência e sangue para narrar as intrigas reais da Noite de São Bartolomeu.
O filme é uma oportunidade de celebrar a carreira da diva Isabelle Adjani (que faz 70 anos!), em uma de suas performances mais intensas. Espere figurinos deslumbrantes, paixões proibidas e um banho de sangue que te fará duvidar da história que aprendeu na escola. É o cinema francês em sua versão mais grandiosa e operística. Vale a pena revisitar essa obra-prima, que mostra que o drama histórico pode ser eletrizante.
Viu só? O cinema francês que aterrissou em Londres neste ano é um show de diversidade, coragem e, sejamos sinceros, aquele toque de sofisticação que a gente precisa. O festival, em sua 33ª edição, prova que consegue honrar seus épicos históricos e, ao mesmo tempo, ser um palco crucial para os debates mais urgentes do mundo.
De dramas existenciais cool a documentários que nos fazem refletir sobre a humanidade, o que não falta é motivo para você fazer as pazes com as legendas. E você, qual desses filmes franceses entra primeiro na sua lista? Me conta nos comentários e não seja egoísta: share esse post com aquele seu amigo que vive dizendo que não tem nada bom para assistir! Au revoir!




